segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Transtorno Bipolar, será?

É...começo a acreditar que a vida realmente nos prega peças. E das grandes! Convivi um bom tempo achando que eu tinha/tenho TDAH e agora na verdade estou recebendo um novo diagnóstico: TAB - Transtorno Afetivo Bipolar ou na nomenclatura antiga: Psicose Maníaco Depressiva. Estou bem cansada e sinto-me muito mal, com muitas coisas e com outras que nem sei explicar. Li um livro chamado "Uma mente Inquieta" um relato de uma psiquiatra que tem o transtorno e conta a sua história neste livro e todas as dificuldades pelas quais passou. Me identifiquei bastante com tudo aquilo, parecia até bem mais real do que só os esquecimentos, a falta de direção espacial e a falta de concentração que tenho todos os dias. Depois assisti a um filme chamado "O Solista" que conta a história de um esquizofrênico que estudava música na Julliard e acabou indo parar nas ruas por conta das crises que ele sofre frequentemente. Um jornalista tenta ajudá-lo e percebe no fim de que por maior que seja a vontade há variáveis que estão fora de controle e não se pode antecipar-se a elas. Já li "Nascido num dia azul" um relato intrigante, emocionante, ao mesmo tempo sensível e forte de um cara que tem a Síndrome de Asperger. Também participei de sessão em um CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial), também fui para no Wassily Chuc, primeiro lugar que me confrontou com a dura realidade de quem sofre de transtornos mentais: policiais armados nas portas e um corredor que dá para as salas contendo grades. Isso mesmo: grades. Perguntei o motivo e me disseram "Por causa das crises, alguns aqui são bem agitados, não temos como controlar". Ouvi de um menino com TDAH de que o sonho dele era ler um livro até o final e depois conseguir contá-lo a outra pessoa, também li vários depoimentos sobre pessoas inteligentíssimas e que ao mesmo tempo não conseguem parar em um mesmo emprego por mais de 3 meses. Foi quando eu me dei conta de quanta dor ronda o próprio paciente, ciente de sua doença, e também da família, amigos e companheiros. Eu vi de perto e também pessoalmente milhares de sonhos frustrados e de momentos perdidos em crises de ansiedade, pânico, fobia e mania. E agora me dou conta com um pouco mais de clareza de como su abençoada por ter consciência de tudo o que me acontece e acontece ao meu redor, da minha capacidade intelectual, do meu esforço quase astronômico em sobreviver às minhas crises, anseios e ideias de projetos mirabolantes. Ao mesmo tempo de como posso realmente ser útil a essas pessoas, que sofrem tanto, se eu me permitir escrever um blog ou livro quem sabe? Para o outro entender, compreender, aceitar e principalmente repeitar essas mentes cujos neurotransmissores caminham por lugares diferentes e muitas vezes insistem nesses caminhos que não são muito aceitáveis na nossa sociedade. Gostaria de fazer Psicologia, mas o curso é integral, então estou pensando realmente em um mestrado nessa área. Quero ser alguém notável nessa área e sei que posso. O meu objetivo vai ser realmente o aprender a lidar com a dor. A dor de uma crise, a dor de uma família desestruturada por conta de um transtorno, a dor da perca de uma relação amorosa, a dor de não ser compreendida nem ouvida, a dor de sobreviver dia após dia, com ou sem medicação, com ou sem terapia, com ou sem os dois ao mesmo tempo. Lembro-me de uma das minhas primeiras sessões de psicoterapia em que eu me comparei a uma pessoa com deficiência nas pernas. As pessoas têm um certo "respeito / consideração" por deficientes físicos porque são deficiências visíveis aos olhos. Mas uma deficiência mental não é visível e quando alguém como eu que formou em uma excelente universidade e especializou em uma das melhores instituições do país, que tem um bom cargo no trabalho, carro e deu entrada no apartamento aos 26 anos, bom, fica um pouco difícil de perceber o sofrimento por trás de tantas prerrogativas de "sucesso". Então eu falei para a minha psicóloga que eu não queria que as pessoas me entendessem nem gostaria de ser diminuída em termos de capacidade ou mesmo que tivessem "dó" de mim, mas que era bastante difícil passar por tudo isso e eu tinha pressa, muita pressa de que tudo isso "fosse resolvido". Ela então me disse que o problema é que "eu sou uma pessoa sem perna querendo correr como se tivesse uma". Chorei muito nesse dia e foi nesse dia em que eu aceitei a minha condição, passei a entender as minhas limitações e principalmente a confiar e abusar dos meus pontos fortes. Afinal, se ninguém é perfeito, as "imperfeições" postas pelos transtornos mentais (sejam eles quais for) na verdade podem ser vistos como uma "falta de habilidade" em algum ponto específico. Então ninguém precisa entender efetivamente os reais motivos de eu não entender planilhas, demorar para entender piadas, números e decorar telefones ou endereços. Ou mesmo porque eu sempre me perco no shopping ou nunca sei onde estacionei o carro, pior: sair deixando as chaves dentro do carro ou os faróis acesos. Depois, minha terapeuta, a Dra. Leila, disse simplesmente "Você tem que tocar nessa perna, sentir como ela é, depois colocar uma prótese ou andar de muleta e devagar, aos poucos, você vai aprendendo a andar, você pode até cair, mas daqui a pouco você está correndo! Talvez não da forma e não com a mesma velocidade de uma pessoa 'normal', mas você vai ter aprendido a lidar com isso e vai correr". Aí eu entendi o processo da coisa toda. Aprender a lidar, ficar de pé, andar e depois correr, ou seja: paciência, dedicação e determinação para chegar lá. Agora quanto a eu ser bipolar ou ter TDAH, pouco importa. O processo será o mesmo: cheio de dor e cheio de vitórias se eu quiser. Se eu correr atrás disso.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Maldito seja o TDAH!

Estou triste hoje, tão triste que a dor parece não caber no peito. Tenho vontade de gritar, mas tenho tentado me conter para que a dor não beire ao insuportável. Tenho tentado suportar esta vida estável em meio a tanta instabilidade. Manter-me no mesmo emprego, manter-me com o mesmo namorado, terminar os projetos que comecei, não ter crises. Às vezes sinto que nem sou mais eu mesma...Estive namorando mas para não variar ele me traiu e eu acabei terminando não por despeito, mas por buscar uma certa dose de respeito. Um homem mais velho, o dobro da minha idade, então eu fico me perguntando se de fato não estava procurando mais afeto do que paixão. Talvez algo mais próximo a uma amizade gostosa ao invés de uma paixão vulcânica. Meu ex-namorado está noivo e feliz. Meu coração este ano bateu pela pessoa errada e esta pessoa agora está feliz gritando aos quatro cantos e quase pedindo para as pessoas retwitarem a sua felicidade. Amor agora deixou de ser íntimo para se tornar público. Deixou de ser encontro pessoal para ser cada vez mais virtual. E falar de Amor parece algo tão batido neste mundo louco que nem mais dizer o que é, talvez porque não o sinta há muito tempo. Quase deixei meu emprego, estava enlouquecendo fazendo coisas e lidando com pessoas desalinhadas com a minha lógica. Montei uma empresa e agora estou fechando-a para ser gerente de marketing de uma Rede de restaurantes em fase de expansão nacional. E eu que sempre quis ser grande, de fato, estou me sentindo tão pequena...tão só, tão perdida, tão confusa. Àsvezes tenho vontade de morrer, outras de sumir como diz minha mãe. Acho que estou cansada de tentar lutar contra todas as perturbações que o TDAH me traz. Me sinto emocional, intelectual e fisicamente cansada, é como se eu não tivesse mais forças para suportar. É como se eu estivesse remando contra uma violenta correnteza e estivesse perdendo a fé. Em tudo e em todos, inclusive em mim mesma. Hoje tivemos que demitir dois funcionários, nunca passei por isso. Foi dolorido, exaustivo, talvez também porque eu tenha sofrido tantas vezes e tenha visto tantas vezes esta mesma cena comigo. É sempre a mesma coisa: eles te chamam numa sala, muitas vezes a mesma em que você foi contratada, e então expõem motivos e de uma hora para outra você simplesmente não está mais na empresa - mesmo que tenha dado o seu sangue. São tantos desafios para o ano que vem! Agora estaremos com uma agência de propaganda fazendo este serviço que era interno, terei meu braço direito e serei o braço direito do meu diretor - uma pessoa fantástica a quem eu tenho uma gratidão tão grande que às vezes me pergunto se isso não beira à loucura. Talvez porque mesmo que ele não saiba, ele me salvou. De crises, de um mundo de fantasmas, de projetos inacabados, de traumas por tantas demissões, de mim mesma. Me entendeu, teve humanidade suficiente para compreender os meus limites e não me diminuiu por isso. Agora estou aqui, sentada nesse imenso vazio desta empresa, me sentindo tão só e mais só ainda por dentro. Serão muitos desafios e eu sofro antecipadamente por tanta responsabilidade. Ao mesmo tempo uma oportunidade de reposicionar e posicionar uma marca, ganhando credibilidade profissional. Mas de que adianta tanta credibilidade se meu coração ainda hoje sofre? Não entendo por quê, queria perguntar a Deus que raios de vontade é essa de não sei o quê, de fazer não sei o quê e sentir não sei o quê. Acho que quando se está perto dos 30 tendemos a sentir mais falta de alguém ao lado para dormir junto, fazer um carinho ou contar as coisas do dia. Tenho saudade de um tempo em que andei de mãos dadas, cumprimentava com um selinho e dividia um pão à tarde. Tenho saudade de um riso, de uma ligação, de receber uma mensagem, ouvir eu te amo...Será esta a fase de intersecção entre a genialidade e a loucura? Talvez. Incógnita: assim sempre foi a minha vida. Estou triste, muito triste e não sei bem dizer por quê, só sei que sinto e dói. Só sei que dá vontade de chorar, mas talvez por já ter chorado tanto e tantas vezes as lágrimas me faltem. Não consigo chorar nem sorrir, nem animar nem desesperar. Tudo ficou imparcial, meu ser se tornou indiferente e o mundo virou commoditie. ..Sim, meu coração está aos pulos, minha mente dói, tenho vontade de dormir mas quando fecho os olhos não sonho. Também perdi os sonhos, meus momentos de fuga, perdi os pontos de tensão do meu próprio desenho, não reconheço mais meu próprio corpo. Estou gorda, com espinhas, cansada e feia. Mas as pessoas ao meu redor dizem que estou linda. Um rapaz daqui do trabalho me chama de "Bela". Que beleza ainda tenho? Minhas rugas estão aparecendo, mas mais fortes que estas rugas externas estão sendo as cicatrizes internas, do meu coração. É bem difícil viver no século XXI. Queria ter nascido no século XIX, é isso. Acho que é isso...