sábado, 20 de fevereiro de 2010

Quantos parafusos você tem?

Sempre ouvimos histórias de pessoas que parecem ter um parafuso a menos, mas no meu caso acho que tenho um parafuso a mais. Porque nada que não é intenso e complexo me fascina. É como se tivesse dentro de mim uma busca constante pela novidade, por desafios, por alguma atividade que encha meu corpo de adrenalina. Sempre fui assim, mesmo que muitas vezes nem eu mesma tenha me dado conta. Como tudo na vida essa coisa de ter TDAH tem o lado bom e o lado ruim, mas entre nós, o lado ruim complica bastante diferentes áreas da nossa vida. Fico puta de raiva quando vejo o quanto esse transtorno caiu na mediocridade (virou moda) e fico mais puta ainda quando vem um engraçadinho metido a artista dizendo que tem orgulho de ser DDAH. Balela. Quem tem de verdade vive numa montanha russa e daí o motivo de alguns psiquiatras ficarem em dúvida quanto ao diagnóstico e colocarem "Transtorno Bipolar". Por Deus, somos hiperativos, compulsivos, desorganizados, intuitivos, criativos, inteligentes e apaixonantes. A explicação é simples: imagine um cérebro que não para (daí também confundirem com SPA - Síndrome do Pensamento Acelerado), que faz muito mais conexões do que um cérebro comum, que tem uma hiper-atividade no lobo emocional e que por isso tem características peculiares que facilitam a comunicação e identificação com o mundo da arte. Agora imagine um cérebro hipo-ativo na área da lógica, que não consegue fazer análises simples se tiver que agrupar informações de forma sistemática, que tem uma falta de senso de direção, espaço (em tempo: os DDAHs são comprovadamente um risco no trânsito) e organização. Então se você já iniciou vários projetos sem concluir, seu quarto vive bagunçado, trocou de emprego ou namorado várias vezes por ter perdido o tesão do nada, se o seu estilo é aventureiro, você está sempre perdendo as coisas e se perdendo nos lugares (procurando seu carro estacionado em algum lugar que você não sabe nem o rumo), se você interrompe sempre as pessoas ou esquece constantemente o que iria falar, até mesmo precisa reler um livro pelo menos três vezes porque não consegue se concentrar / ter atenção naquilo e esquece assim que acaba de ler, e aprendeu fórmulas de matemática cantando porque nunca entendeu bem a lógica da matemática, se na hora de escolher entre um picolé de morango ou chocolate você ficou na dúvida e acabou levando os dois ou nenhum, se odeia rotina e sempre chega atrasado, bem-vindo ao clube. Você é um forte candidato a um hiperativo ou no mínimo alguém que tem Déficit de Atenção. Notícia ruim: é igual diabetes, não tem cura. Notícia boa: é igual diabetes, tem como controlar, mesmo se a glicose subir. Ou seja: mesmo que você tenha crises, confie em Deus acima de tudo e encontre seu melhor tratamento. Hoje a tríade psiquiatra-psicoterapeuta-boa vontade é a que mais funciona. Você vai se entender a cada dia mais, vai saber diferenciar Ritalina de Ritalina La e Brupropriona, a diferença entre as linhas terápicas psicodrama, psicanálise e cognitivo-comportamental, também vai acabar em alguma livraria comprando algo como Mentes Inquietas, Meu amigo TDAH, além de outros contendo exercícios cerebrais para melhorar atenção-concentração-memória, a tríade que é o grande mal de todo DDA ou DDAH. Acredite: ter um transtorno alimenta a alma de uma vontade muito superior à média de superação. Cada recado anotado, cada vez que você espera o ônibus sem roer as unhas, cada vez que você olha dentro dos olhos da pessoa e consegue manter uma conversa ou segurar o impulso de interromper a conversa, é um desafio a mais. Uma vitória a mais. A sensação é a mesma daquelas terapias de grupo de AA em que se diz "Mais 24 horas" e a luta será sempre diária. Às vezes se consegue e muitas vezes não. Então é pensar na Diabetes "Como posso controlar e amenizar os efeitos colaterais?". As pessoas não vão entender seu cérebro, porque definitivamente, ele é diferente! Especial. Muito menos queira colocar todas as suas frustrações e decepções no problema. Jamais permita que alguém diga "é porque fulano tem problema, faz até tratamento" como se fosse algo perigoso, contagioso ou que requer certo cuidado. Grandes gênios da humanidade tiveram o mesmo "problema": Einstein, Van Gogh, Leonardo da Vinci, até mesmo Michael Phelps! E o que é que a professora dele tinha dito tempos antes? "Este menino não vai ser ninguém"...Então, levante a cabeça e foque no que você é bom, não perca tempo com minúcias que te tiram tempo, paciência e o humor. Quero compartilhar minhas histórias com vocês e gostaria que vocês fizessem o mesmo, este é um canal aberto e livre a todos os hiperativos que se sentem perdidos no mundo, como se fossem pontos amarelos em oceanos azuis. Unidos somos mais fortes. Unidos podemos muito mais, podemos tudo. Conto com vocês. Aliás, todos os que tiverem algum transtorno seja por ter um parafuso a menos, seja a mais, por favor: botem a boca no trombone. Se você não tem, mas quer entender quem tem, minha dica é: paciência meu amigo, muitaaaaaaaaa paciência. Compensa no final. Em tempo: perdi meu óculos pela 5ª vez, se alguém encontrar por aí em algum canto abandonado, por favor, devolva. Obrigada.