domingo, 21 de março de 2010

Uma ilha em um turbilhão

Hoje eu acordei com a Síndrome do Vou Mudar Agora Mesmo. Tá, já fiz isso outras vezes, mas talvez por eu entender um pouco mais de TDAH e entender que eu tenho um problema e preciso saber lidar com ele, talvez então desta vez seja diferente. Me sinto como se tivesse naquela DR entre um casal que se separa várias vezes e certo dia diz "Agora é pra valer". Engraçado que esquecem de pensar "Agora é pra sempre" quando retornam. Enfim, estou aqui pra falar de TDAH e não de casamentos. De repente eu olhei em volta e percebi que toda a minha vida está desorganizada, a começar pelo meu quarto, tem também os meus papéis jogados sem identificação, livros que comprei e não li, várias tarefas incompletas e vários planos que foram simplesmente abandonados. Percebi que estou passando mais tempo do que deveria no trabalho e estou levando mais tempo para finalizar algumas tarefas, além de esquecer várias outras. Já senti meu estômago embrulhando quando meu chefe pediu um contrato e eu não sabia onde estava, quando disse que mandei e-mail ao fornecedor e simplesmente não o encontrava na caixa de recebidos e arquivados, pior: quando fui apresentar uma campanha e minhas ideias não tinham uma sequência lógica. Ele não disse nada, mas sei que no fundo, ele não entendeu aqueles slides que só teriam lógica pra quem tem uma mente desordenada como a minha. Por mim, faria toda a minha vida em mapas mentais, de diferentes cores, fontes, tamanhos, engraçados e até um pouco infantis. E por falar em infantil, percebi que tenho 15 dias pra entregar meu TCC e 8 livros que não li uma página sequer para fazer o embasamento teórico. Resolvi mostrar que a Criatividade tem sua origem no mundo infantil e que se uma empresa seguir esta linha de pensamento e pesquisar o que as crianças gostam e como pensam terão os pontos necessários para fomenatar a Criatividade no ambiente de trabalho. A empresa do meu estudo de caso? Google, é claro. Percebi também que deixei de fazer coisas que eu sei que são absolutamente necessárias para minha vida: as consultas psiquiátircas, a terapia (estou pensando em mudar a linha EMDR para a Cognitivo-comportamental ou Psicodrama, acho que terei mais resultados), o inglês, a dança, Yoga. Também abandonei literalmente e há muito tempo o melhor de mim e que alimenta a minha alma e o lado direito do meu cérebro: a arte, a música, a literatura. É o meu tripé preferido e que me deixa em estado de êxtase, que me faz chorar de emoção. Tá, e como percebo isso? Meu corpo, minha mente e meu dia-a-dia enviam sinais: estou me perdendo no meio das conversas, não consigo gravar o que me foi passado por telefone, estou interrompendo mais, meu cabelo está caindo, apareceram manchas roxas no corpo, não estou lembrando os nomes das pessoas com quem trabalho, estou tendo que anotar a tarefa mais boba possível como ligar para alguém (mesmo que esse alguém seja importante ou tenha importância para mim), estou mais triste, mais afastada das pessoas, tive uma briga em que fui agressiva com a equipe, atropelei um motoqueiro, bati em um carro, paguei várias multas por ter esquecido de pagar as contas, engordei quase 10 quilos, estou usando bolsas maiores carregando tudo o que possa ser esquecido, meu outro chefe está me processando administrativamente por comportamento ruim/inadequado, minha mãe chegou e disse "Você precisa tomar seu remédio". Além disso, sinceramente, não sei como consegui bagunçar o meu quarto a ponto de deixá-lo como está - é absurdo, descabido. Minha mãe sempre me diz que o quarto representa o estado interior da pessoa, a bolsa também. Ela diz "Se o seu meio está bagunçado é porque você está bagunçada por dentro". Então eu choro porque me sinto frustrada, como pode essa doença acabar com os meus dias e os meus planos desta forma? Como pode tomar conta do meu juízo, do meu humor e da minha motivação para fazer as coisas? Tem o TDAH esse poder? E mesmo que tenha, é justo? Não, não, não. E eu não vou perder de novo, não vou ser despedida, não vou me ver perdendo o namorado para outra, não vou deixar minha bolsa para trás, não vou me deixar levar por essa avalanche! Estou cansada, estou dormindo mais do que devia e não tenho tempo para me autoanalisar. Fui ler alguns papéis, todos incompletos, a respeito de mim mesma. Quem sou? O que quero mudar? Que ações preciso desenvolver para chegar a estes objetivos? Todos incompletos. Talvez por isso eu nunca tenha de fato me colocado à prova para seguir algo estruturado. Por uma questão óbvia: que DDAH gosta de regras, sistemas lineares, prazos e metas quantificadas? Preciso aprender a dominar meu cérebro antes que ele me domine. E aprender a lidar e controlar cada efeito colateral desta doença para que ela não mine minha vida. Hoje eu decreto que meus planos serão realizados! Não quero me sentir fraca e incapaz. Não quero chorar debaixo do meu edredom, me esconder por trás da porta trancada do banheiro ou descontar agressivamente em pessoas que nada tem a ver com os meus problemas. Hoje sou uma executiva, estou no meu melhor momento profissional e não posso deixar ser vencida assim. Eu desafio o TDAH, vou mostrar que minha força de vontade é muito maior que as minhas limitações e que eu vou vencer esta queda de braço. Não quero mais, nunca mais, me sentir uma ilha em meio a um turbilhão. Nem que eu tenha que fazer um tratado para me lembrar todos os dias deste desafio e comece cada dia dizendo "Só por hoje eu prometo..." tornando isso um lema, uma oração, a ser repetida e repetida e repetida. Ao final do dia vou reforçar igual o pessoal do AA faz "Mais 24h", só que o meu será "Mais 24h desafiando o TDAH". Acho que essa raiva que estou sentindo vai me alimentar de forma positiva para que eu leve isto à frente. Então eu poderei postar aqui os resultados de uma atitude que todos nós DDAH's devemos ter - coerência e paciência, devemos saber cultivar. Boa noite a todos...

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